Nunca me ocorrera como é imaginar a ausência. Eu sempre estive alta demais para que meus passos atingissem o chão. Confesso que sempre foi uma questão de escolha: procuro escolher como prefiro pisar. Acho que o 'como' é mais apropriado do que o 'onde'.
Talvez essas minhas escolhas não sejam das mais certas. Mas eu já aprendi que aquilo que não é certo é também composto de verdade, e a verdade está naquilo que não nos pertence. Embora me sejam fragmentos-de-vida, o que não me pertence é o que eu julgo ser meu a qualquer custo.
Já me peguei pensando sobre a minha vida realmente me pertencer. E agora acho que o ritual mais aceitável para as minhas indagações é que a minha vida se faz existir a partir dos outros - nos meus de perto, de longe e também através daqueles que não são meus, e principalmente estes, os meus ausentes. Chego a concluir que minha vida não seja de fato minha, mas doada a mim. Doada a mim pelos meus, pelos dos outros e por mim mesma.
Sentir o peso da ausência ou imaginá-la em mim é estranhamente espantoso. Ela é grande demais para o meu tamanho e receio não suportá-la, e talvez por isso eu arraste meu coração pelo lado oposto.
A incerteza de uma falta naquilo que desconfio nem me pertencer me causa um intenso desacordo. Eu queria ser nas palavras assim como sou nos sentidos. Um muito atrapalhada, mas talvez conseguisse dizer o incompreensível nunca dito. Preciso dizer porque sei que não cabe somente aqui comigo, ou eu quero acreditar que não cabe. Quero dividir com quem eu puder como é ver a ausência que me empurra para pegar o que eu nem sei se será meu e colocar dentro do corpo.