Era dia de vida para Temporina, do jeito que ela sempre apreciou. Como daqueles acontecimentos que se realizam sem o encalço premeditado, haveria de ser com o inesperado: atraiu-se em prender-se a feitios surpreendentes.
Viera de encontro Mister Rio, assim sem explicação interessante, com sua descontinuidade indevassável. E quanto perigo. Deus sabe quanto perigo existe nas confluências humanas. Por isso mesmo as faz existir provocantemente perigosas.
Para Temporina, uma pescadora de sonhos, o que lhe chegava por meios periclitantes fazia-na frágil. Uma fragilidade leve que conduzia Temporina de uma maneira que o tempo não estima.
Mister Rio fez-se presente como um pássaro de vôos alçantes, acima do teto. Difícil para Temporina subir em escadas de vento, a fim de achar-lhe os olhos para lhe segredar detalhes. Mister Rio, com todo cacife que seu posto lhe atribui, também não soube estimar maneiras para a compreensão de achar Temporina num dia de vida. Mister Rio, como sua própria feição sugere, é conferido de mistérios sem tamanho.
Quanto mistério carrega este senhor-oculto? Que mostrou sem saber, para que Temporina visse, que é como ter um pássaro pousado no dedo: tanta tensão causa um batimento descompassado. Deixando: no pé, nuvens. Nas mãos, cordas. No dentro, tempo.
Para me remediar: eu sei que um dia o honroso Mia Couto há-de me perdoar por roubar-lhe o incrível "Temporina".